Os textos apresentados aqui fazem parte do meu livro "Pensamentos Psicologia Aforismos Filosofia", que está disponível na Amazon por R$ 14,99.
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Sobre os três tipos de amor.
O amor líquido, o amor que esparrama, o amor completo... Ah, ele é terno, meigo, sublime. Dele origina-se uma sensação de relaxamento muscular – os músculos se esparramam pelo nosso corpo, ocupam todos os espaços e levam essa sensação gostosa e sublime para todas as células e moléculas e, uma vez entregues totalmente a essa sensação, percebemos que nossos órgãos, nossa estrutura endócrina, com suas glândulas e secreções, trabalham em conjunto e harmoniosamente. E não há medo. Há somente a certeza de que a pessoa que amamos nos faz e nos quer bem. Existe reciprocidade, verdade, carinho e respeito. Esse tipo de amor não tem nada a ver com o amor de Eros, com a flecha de Eros, com ter sido flechado por ele, não. A flecha machuca, nos tira do caminho, do sossego, e atrapalha nossa vida. O amor de Eros é desrespeitoso, poderoso, masculino, de dominação. O amor de Eros perturba porque é potente, é grego dominador, é a fúria grega, dionisíaca; já o amor sublime, esse que relaxa e é sutil, esse que é amigo sensual e sexual, é feminino, calmo e delicado. O amor de Eros situa-se, fica no meio, localiza-se entre o amor sublime e a doença maior, que é a paixão. A paixão é morte, perda, despedaçamento. A paixão, por ser a projeção da anima ou do animus, é assalto, invasão do inconsciente, enfim, é uma psicose. Sim, toda paixão – e por paixão entenda algo que avassala – é doença perigosíssima, já que é perda de controle, como se fosse uma esclerose múltipla da alma. São esses os três tipos de amor, de sentimento, de emoção de amor. Não há relação entre eles, um não deriva do outro, um não é consequência do outro; são realidades distintas que aparecem durante nossa vida, independentemente da nossa vontade. É óbvio que devemos nos concentrar somente no amor sublime, nesse que relaxa e esparrama nossa alma em infinitude calma e serena; nesse, cuja energia sexual fica acesa eternamente, ora mais branda, ora mais alta e forte, mas nunca se apaga enquanto for amor... E, se não houver mais amor, para que a dor? Basta estar aberto a outro amor...
Pirralha.
De repente você me viu chorando
E me abraçou de forma verdadeira
E eu senti tristeza na sua alma
Quando você sentiu minha tristeza.
E me levou para um lugar tranquilo
E escutou o que eu tinha a dizer
E deu risada de tudo aquilo
Dizendo que eu me acostumei a sofrer.
E que eu sofria daquele jeito
Porque andava muito sozinho
E que adoraria ser minha companheira
Porque tinha por mim só carinho.
E esse amor me encurralou
Em incerteza e emoção
Pois eu nunca tinha sentido
Tanto amor em meu coração.
E eu mergulhei de cabeça nesse amor
E ele se transformou no que tinha que ser –
Em amizade entre dois seres lindos
Que só se separam depois de morrer.
E você ama outros homens e mulheres
E eu sou livre para amar também
Mas o que eu quero lhe dizer definitivamente
É que eu nunca vou deixar de amar você.
E se a vida seguir o seu caminho
Eu morrerei muito antes de você
Então fique sabendo de uma coisa:
Se você morrer antes de mim,
Eu não aguentarei viver.
Mulher bela e Mulher bonita.
Uma mulher bela é delicada, tem contornos sutis, é feminina e os traços são verdadeiros hinos à harmonia das formas, ou seja, seus contornos, com as devidas variações genéticas e étnicas, não são desproporcionais, não saltam aos olhos, não são exagerados. Um exemplo disso é a atriz Angelina Jolie: quase, por quase muito pouco ela teria deixado de ser bela para ser grotesca – se tivesse um milímetro a mais de lábio superior, esse teria desastrado sua beleza e a colocado no rol das caricaturas. Já a boniteza é diferente. Mulher bonita é mais forte do que a bela, de corpo e mente. Uma mulher bonita tem traços e contornos que lhe conferem beleza, claro, mas há algo a mais na boniteza: mulher bonita é mulher madura, que se gosta, que tem prazer de viver, que se aceita, que solta os cabelos da maneira que quer sem se importar com a aprovação alheia; mulher bonita já sofreu, muitas já tiveram filhos, casamentos e dramas e escolheram, porque resolveram glorificar a existência, serem livres, fortes e belas – e por isso são bonitas. Boniteza é mais, é maior, é mais importante do que a beleza: toda mulher bonita é bela; nem toda mulher bela é bonita.
Taurinos.
Nós, taurinos, somos um povo, no mínimo, estranho. E misterioso também.
E, antes de continuar meu raciocínio, eu gostaria de protestar contra essa máxima de que taurino é comilão – pelo amor da Deusa da Comida Xá (inventei essa deusa agora), isso é uma tremenda falta de noção e consideração! Creio que essa máxima foi inventada para que outros aspectos interessantes de nossa personalidade não fossem devidamente considerados, creio ter sido isso. Num mundo em que as pessoas tendem a rotular cada vez mais, fica fácil dizer que os taurinos são basicamente comilões – ridículo! Somos comilões na mesma medida em que sagitarianos, piscianos ou qualquer outro signo é – afinal de contas a obesidade só existe entre nós, os do chifre?
Enfim... Somos um signo do mistério, misterioso, e creio que esse mistério seja uma combinação de pelo menos dois fatores contraditórios e de igual importância: somos calmos, gostamos de passear e de pastar calmamente com nossas patas pesadas na relva absorvendo o sol vespertino; todavia em nossa alma, pelo fato de sermos touro, existe uma fúria, mas ela não é tão intensa quanto a do leonino ou do ariano, pois ela é contrabalanceada por essa calma, fazendo com que oscilemos entre tranquilidade e ferocidade, entre suavidade e possessividade, entre sensualidade e burrice primitiva. Sim! Em nós há uma burrice, um baixar a cabeça e chifrar tudo e todos se algo não se encaixar em nossas expectativas – essa é a tal da teimosia taurina. É claro que, para os mais inteligentes, essa teimosia burra vai perdendo potência com o passar dos anos...
Pelo fato de termos essa calma e essa força do touro, essa postura forte e possessa, tudo a nós pertence, somos senhores do pasto, vacas, bezerros, tudo; batemos de frente com o leão e a jaguatirica, apavoramos as cobras e as serpentes... Essa postura, que parece arrogância, mas definitivamente não é arrogância, é o que nos dá o ar da sensualidade, poder, força e desejo de possuir. Somos ciumentos até o extremo por causa disso, não importa o que seja: uma guitarra, uma mulher, um amigo, um livro, um doce, uma camisa que amamos – tudo a nós pertence, gostamos do luxo, do conforto, do carro bom, do que é bom, do que tem vida, das grandes construções arquitetônicas, bem como do mar mais lindo de Porto Seguro e sentimos isso em nossas veias, nossa teimosia, nossa sensualidade, nossos corpos sedentos de sexo, nossa pegada certeira – sabemos fazer, somos mestres nisso, pois somos touro, temos a força titânica, temos a força dos verdadeiros donos da terra, dos possuidores, dos aristocratas, dos que mandam, dos que sabem comandar e governar.
A verdadeira essência desse signo é o comando. De si próprio. A certeza de que nosso destino é aprendermos a nos comandar, a controlar nosso apetite gigantesco, nossa selvageria burra, nosso ímpeto sexual agressivo, nossa grana, nosso trabalho... Sabemos disso instintiva, intuitivamente. E, por isso estar em nossos corações, temos uma necessidade absurda de perfeição; cobramos muito de nós, não aceitamos miséria, pouca coisa, coisa baixa e vulgar; preferimos os poucos amigos à mesa gigante dos beberrões desconhecidos; não gostamos muito de Dioniso, preferimos Apolo, preferimos o equilíbrio entre força e ternura, o meio-termo, a delicadeza forte – essência de nossa sensualidade – e a calma do sol vespertino aquecendo suavemente nossos corpos enquanto pastamos em nossos domínios...
Evidentemente.
Que bicho estranho que sou...
Acordo às duas da manhã
Com o sonho vívido na mente
E o relato a mim mesmo,
A fim de não o perder,
Evidentemente.
E comigo fico falando,
Sempre focado no sonho,
Sempre nas imagens do sonho
E, quanto mais isso eu faço,
Mais nele eu mergulho
E ele explode
Em mil associações
E significados.
E tudo o mais,
Todas as políticas,
Pessoas e tais
Parecem que somem
Da minha mente
E só me resta
O que aprendi
Com o sonho,
Evidentemente.
Vá-se, prego!
A mãe da mulher que eu não amo
Sabe que eu não amo sua filha;
Sua filha também sabe que eu não a amo
E eu, claro, também sei.
E a velha me persegue, me humilha
E me tira do meu falso conforto,
Mas não tem coragem de expor
Abertamente minha safadeza.
Talvez por isso me persiga,
Fazendo-me comprar coisas caras para a filha,
"Obrigando-me" a pagar almoços
Em restaurantes chiques,
Acuando-me ao máximo na vã esperança
De que eu vá e deixe sua cria em paz.
E eu sou carente e ela também –
E por isso estamos juntos;
Mas a velha, a maldita mulher,
Não nos deixa em paz
E sempre nos afronta e nos incomoda,
E ela tem razão e sabedoria:
Ela quer o melhor para a sua filha,
Que, com certeza, não sou eu...
John Lennon.
Eu tenho alguma coisa contra John Lennon que eu não sei bem o que é... Aqueles óculos, aquela cara de otário, aquela típica arrogância dos britânicos colonizadores – lembrem-se de que ele disse que os Beatles eram maiores do que Jesus Cristo! Enfim... Anyway... Sempre existiu em mim uma antipatia enorme a esse gênio da cultura, revolucionário, cantor, compositor excepcional, expoente maior da melhor música de todos os tempos, mas... Não sei... Não vou com a cara dele: o formato do rosto, o cabelo, o nariz, aqueles olhos semicerrados, lânguidos, como se olhasse de cima toda merda que é o mundo; aquela linguinha que ele colocava para fora durante as entrevistas... Nada me convence de que ele era um tremendo arrogante antipático esnobe e que, no fundo de sua cabeça, havia, sim, a ideia de que ele, o Sir Lennon, era superior a todos, inclusive a Cristo!
Sobre o processo de adoecer.
Começa, a doença, na mente,
Em forma de pensamentos contraditórios
Que geram sentimentos pesados,
Emoções pesadas e angustiantes
E a mente não suporta o peso
E a energia conflitante.
E essa energia,
Provocada por esses pensamentos,
Desloca-se
E encontra um porto seguro no corpo,
Onde se instaura em forma de doença.
Os pensamentos contraditórios,
Não saber o que fazer,
Ir fazendo as coisas,
Qualquer coisa,
Seja num relacionamento, num trabalho...
Ir fazendo as coisas
De forma atabalhoada, desordenada,
Sem confiança e sem convicção
Já é um sinal de doença.
Quando há conflito no pensar,
Quando os pensamentos contraditórios
Começam a se digladiar,
Ocorre uma grande geração de energia
E essa energia já é a
Primeira manifestação da doença.
O caminho é o seguinte:
Pensamentos contraditórios,
Briga entre eles,
Sentimentos horríveis
E geração de energia negativa
Que a mente não suporta
E manda para o corpo,
Onde se fixa em forma de doença.
E por que assim acontece?
Evolução,
Sobrevivência,
Darwinismo.
É melhor o corpo adoecer do que a mente.
É matemática da natureza.
Somos seres
Pensantes,
Inteligentes,
Lógicos,
Artísticos,
Empreendedores
E por isso não podemos "quebrar" nosso cérebro;
Consequentemente, é preferível,
Em termos de lógica vital,
Que o corpo adoeça,
Que o corpo "receba" a energia
Que a mente não pode e não deve suportar.
É maravilha existencial
Que o corpo seja um receptáculo da energia
Provocada pelos pensamentos contraditórios,
Pois, se não fosse assim,
O cérebro não aguentaria
O peso, a pressão e sucumbiria –
E, com ele, toda a espécie homo.
Sobre a dor no corpo e a dor na alma.
Uma vez eu tive uma crise de pedra na vesícula. Doeu demais. Fui ao hospital, fui medicado e a dor passou.
Outra vez fui extremamente humilhado por um tio. Fiquei assustado, revoltado e quase fiz uma besteira, mas com o tempo a dor passou.
Só que, depois da crise na vesícula, eu mudei minha alimentação, fiz regime e nunca mais tive crise nenhuma e, por isso, nem me lembro mais de como foi a dor.
Entretanto esse tio não morreu e ainda o vejo nas reuniões familiares; e só o fato de o ver já é suficiente para despertar a mágoa, a raiva e a fúria adormecidas – essa dor nunca passa, é inesquecível e é insuportável ficar no mesmo ambiente que ele.
Ora, se eu me afastei dos alimentos que causaram a crise na vesícula, por que não me afastar da pessoa que causou a crise na minha alma?
Portanto o perdão não existe e nem deve existir. Se quisermos manter a saúde da alma e do corpo, temos que nos afastar daquilo ou de quem nos causou o sofrimento.
Adeus, comida gordurosa.
Adeus, tio maldoso.
Tendo dito isso, a resposta para a pergunta "qual é a dor que dói mais, a dor no corpo ou a dor na alma?", é óbvia:
A dor no corpo a gente esquece, a medicação resolve e a disciplina não permite que ela volte;
Já a dor na alma, a dor psicológica, é inesquecível, pois sempre volta em forma de lembrança: basta ver um tio que nos matou, uma namorada que nos traiu ou um amigo que nos encurralou que a lembrança desses horrores invade nossa mente, corpo e alma.
Sim, a dor no corpo passa, a dor na alma não.
Artistas e Drogas.
A maior mentira de todas é que os artistas precisam de drogas para aumentar suas sensibilidades... mentira. Quem precisa de drogas e se dá melhor com elas são os menos sensíveis. Os artistas, por serem muito sensíveis, já veem o mundo de ponta cabeça, já são atormentados por natureza e estranhos ao comum desde que nasceram. Artista não precisa de droga, precisa de terapia; quem precisa de droga é comerciante, programador de computador, secretária, engenheiro, pedreiro, mecânico de automóvel, advogado, balconista, carpinteiro, o pessoal da bolsa de valores...
O vício como covardia.
Não sei se isso se aplica a todos os casos de vício, mas creio que muitas preferem se entorpecer a entrar em contato com suas emoções e hipersensibilidades. Muita gente prefere o peso do álcool, do chocolate, da maconha e de outras substâncias a perceber-se leve, sensitiva, delicada, amorosa e "xamânica". Há medo frente à possibilidade de ser alguém que nunca se foi; há medo da mudança da personalidade, medo dos outros estranharem e se afastarem e, principalmente, medo de se sentir leve e gostosa.
A leveza da gostosura,
A gostosura leve,
A gostosa que levita,
A leveza que leva
Gostosamente,
Como a suavidade de uma onda delicada quebrando na areia, assusta num mundo pesado, poluído, maldoso e psicótico, e por isso muitas se entregam ao vício com medo de se elevarem, com medo de adquirirem potência e sabedoria e com medo de serem, definitivamente, quem nasceram para ser...
Neste caso o vício não é doença, é covardia!
Chega!
É hora dos bons se levantarem!
Dos ateus,
Dos que não creem em forças metafísicas,
Dos que creem somente no instinto e na verdade.
É chegada a hora dos heróis e dos poetas –
É hora dessa gente se levantar,
É hora dessa gente se fortificar,
Parar de se drogar
E começar a se posicionar
Nas reuniões familiares e empresariais.
É chegada a hora de desbancar
A caretice,
A covardia,
A metafísica,
O mundo astral.
Chega de acreditar em seres que não existem –
Eles só existem na nossa mente inconsciente
(Isso Jung já demonstrou no século XIX).
Chega de acreditar em
Salvador,
Em Mito,
Em Messias.
Estamos destruindo o planeta por causa disso –
Chega!
É hora de os guerreiros tomarem o poder!
Já não nos cansamos da mediocridade? Já não cansou?
Quando não fazemos tudo aquilo que podemos fazer,
Quando nos acostumamos à mediocridade,
Ao emprego que "está bom",
Aos relacionamentos medíocres,
Que não preenchem e não nos dão
A sensação de integridade e felicidade;
Quando paramos um curso, uma atividade;
Quando deixamos de crescer,
Como flechas em direção ao sol,
Algo em nós se rebela, grita e nos mata.
Quando não terminamos a faculdade
Que temos que terminar,
Quando desistimos do violino tocar,
Da mulher amar,
Do livro ler...
Ó, santa mediocridade!
Algo em nós
Grita,
Surta
E nos faz adoecer.
Parece que a alma
Não nos deixa em paz e adoecemos.
A mediocridade não é para os seres vivos –
Nenhum!
Seja uma onça,
Um tigre,
Um pardalzinho,
Uma minhoca,
Nada, neste planeta,
Foi feito para a potência média.
Nada.
Todas as formas de vida
Foram criadas para darem o máximo de si,
Para não fugirem do combate,
Para fugirem de uma perseguição,
Para saberem usar
Os dentes e as espadas,
As guitarras,
As vozes,
As palavras,
As espátulas...
Um emprego a perseguir,
Uma luta a não fugir,
Uma luta a fugir,
Uma questão a resolver,
Uma mágoa a resolver,
Um dinheiro a ganhar –
Tudo em nós quer conquistar.
A arte de viver
Não aceita
A mediocridade,
E nós, brasileiros,
Estamos fadados
À pobreza medíocre enquanto formos palhaços de gringo,
Enquanto sambarmos para inglês ver –
Lembro-me das manifestações de 2013...
Ó, piada verde-amarela!
O povo saiu às ruas para protestar e...
O quê?
O que aconteceu?
Que revolução fizemos?
Que salário mínimo foi aumentado?
O que, de fato, foi conquistado?
Nada!
Somos um gigante adormecido?
Ainda não acordamos?
Dormindo estamos?
Ou será que somos assim? –
Fracos, oprimidos, opressores e doentes?
Será que estas terras fenomenais,
Essa riqueza culinária, mineral e cultural,
Essa coisa linda que temos
Não está escondendo uma necessidade de revolução?
Será que já não nos cansamos da exploração?
Do dízimo?
Será que não estamos percebendo
Quem são os verdadeiros inimigos?
Já não cansou?
Em nosso instinto,
No que há de mais profundo em nós,
Já não cansou "ser cordeiro",
"Ser temente"?
Tenentes a bater continência?
Será que à mulher brasileira,
À verdadeira mulher brasileira,
Branca ou preta,
Nem revoltada nem submissa,
Brasileira,
Bonita e sofrida,
Carente e guerreira,
Não falta o instinto da mudança?
Não estão, nossas mulheres,
Numa crise gigantesca
Muito maior que a dos homens?
Uma crise de identidade, de atitude?
E os pretos dessa terra?
Cadê?
Chega desses sorrisos forçados,
Desse discurso carneiro –
Eu gostaria de ver o grito preto,
A verdadeira fúria
De um descendente de escravos –
Chega de capoeira!
A capoeira é dança ou luta?
Está-se dançando ou lutando?
Uma atividade que não é
Nem dança e nem luta
Só escancara a vontade
De negar o confronto.
A capoeira,
Que não é nem guerra e nem dança,
Não fede e nem cheira,
É um símbolo da mediocridade.
Não cansou tudo isso?
Não cansou essa ambivalência?
Não cansou a violência?
Não cansaram esses programas
Televisivos medíocres?
Artistas vendidos e mascarados?
Cadê a revolução?
Ah, Brasil...
Amo-o, mas não sou, como você,
Um conformado, um conformista.
Eu, Elias Tadeu Obeid,
Não me conformo
E não baixo a bola –
Eu luto,
Eu vou,
Eu me assumo e grito.
Meu ídolo é Raul Seixas –
Que Paulo Coelho que nada!
O negócio é rock and roll na veia!
O grito solto de um ex-oprimido
Que quer, definitivamente,
Oprimir toda forma de opressão.
Da tristeza do europeu do começo do vinte e um.
Ah, os olhos tristes dos homens brancos europeus... Só falta o leite sair de suas tetas para amamentarem seus filhotinhos – esses pequeninos politicamente corretos adestrados para não viverem com arte, risada, irreverência... Sim, se antigamente o homem era um bruto machista, agora é uma mulher delicada que perdeu a razão de viver. Ainda bem que os negros invadiram a Europa, os imigrantes – isso pode acrescentar à cultura um quê de instinto forte, de vontades mais instintivas, anímicas, verdadeiras; de sensualidade e voz que atraiam naturalmente as mulheres, que desperte nelas a vontade genuína de serem penetradas e amadas por homens cheios de vida e testosterona e não por esse bando politicamente correto lactante. Quero ver como vai se desenrolar essa trama: será que no futuro todos os homens estarão usando sutiã e comprando plugs anais ou veremos uma terceira espécie de homem surgindo no velho continente? Talvez um tipo de homem mais homem mesmo?
Do surgimento do politicamente correto.
O politicamente correto só surgiu por causa do HIV. Antes da disseminação do vírus, no final dos anos 1980 e começo dos 1990, os caretas, os certinhos e os corretos não tinham vez nas contações de histórias ou piadas; não eram o centro das atenções nas reuniões familiares e muito menos o centro da roda onde as crianças se sentavam para escutar, admirar e gargalhar; não estavam na música, no teatro e nem se atreviam a dançar; raramente saíam de casa para se divertir, beijar ou transar e por isso não eram referência de comportamento, filosofia, graça, arte, psicologia, sensualidade e sexualidade. Suas almas só se encontravam nos escritórios de contabilidade, engenharia, arquitetura, na administração de empresas, no comércio e vendas em geral, nas repartições públicas, na medicina, nos laboratórios, nas matemáticas, enfim, nas profissões do método e não artísticas.
Estava bem definido, até o começo dos anos 90 e em praticamente todo o mundo, que o centro das atenções, a referência de comportamento, o filosofar sobre ele, o centro do palco, o palco, o canto, a arte e a alegria eram um direito e um dever dos carismáticos, artísticos e falantes – esses que beijavam e transavam, esses que dançavam sem se preocupar com o que era dito sobre eles, esses que peitavam a autoridade e eram punidos por ela. Quando surgiu o HIV, eles começaram a conhecer uma doença psicológica chamada pânico frente à possibilidade de morrer, pois estavam em maior contato com o vírus, precisamente por viverem suas sensualidades e sexualidades intensamente.
O fato é que muitos morreram e os outros tantos que não morreram perderam a luz, a alegria, o tesão de viver e de transar; perderam o ímpeto de se transformar e transformar e foram saindo de cena, foram murchando nas reuniões familiares e do trabalho, foram se colocando e sendo colocados nos lugares escondidos e escuros da sociedade. Perdeu a arte, perdeu a alegria, perderam o samba e o futebol, perderam a graça, o humor, a inteligência artística e o prazer de ser brasileiro – perdeu o "ser baiano"; perderam o charme e a elegância de um povo carismático e alegre para dar lugar aos que não beijavam, não transavam, não se expunham, não se divertiam e não divertiam – os caretas, os certinhos, os corretos.
Esses, agora, frente à saída de cena dos que eram referência de comportamento, alegria e vida ganharam espaço e começaram, meio que automaticamente e não tão discretamente, a ditar as regras do que viria a ser um comportamento medroso, refreado, não artístico, não sensual, de cheiro e moral estranhas e muito preocupado com a aparência. Começou a ser dito de forma categórica nos anos 90 o seguinte: "Não faça isso minha filha, pois não é politicamente correto"; "Não fale alto, não fale palavrão meu irmão – isso não é politicamente correto".
Quando foi encerrada, pelo menos na cidade de São Paulo, a cultura de tocar violão e cantar às mesas de bar? Nos anos 90.
Quando foi que a seleção brasileira de futebol começou a jogar pragmaticamente, "roboticamente", "europeiamente", com dois volantes de marcação, copiando o estilo europeu de jogar futebol? No começo dos anos 90.
Quando foi que morreram o samba e o rock'n'roll? Quando foi que surgiram esses grupos de pagode com essas músicas ridículas e sem contato com o profundo? – grupos cujos integrantes se preocupavam somente em sorrir que nem idiotas nos programas de auditório? Quando foi que as grandes bandas de rock, as maiores de todos os tempos, substituíram a guitarra pelo violão para gravarem as tais das "músicas acústicas"? Nos anos 90.
Quando foi que começaram os casos absurdamente alarmantes de depressão e suicídio juvenis? No começo do milênio. Sim, não foi nos anos 90, mas certamente foi uma consequência do "correto".
Quando foi que pipocaram, que nem sarampo, caxumba, varíola e gripe, as igrejas evangélicas neste país? Nos anos 90.
Todo homem está delicado.
Todo homem está delicado
Todo homem fala manso
Super educado
Eu me sinto muito estranho
Porque eu sou um macho
Mas eu não sou machista
Tampouco efeminado
Muito menos budista
Que fala muito baixo
Rezando com as mãos
Numa pose de elevado
E dizendo gratidão
E tem medo de mulher
E tem medo de ter
Testosterona
Só para fazer
Parte de um grupo
Dos descolados
Super bacanas
Tão elevados
Que mais parecem
Caricaturas
Do que seres humanos
Ó criaturas
E fazem ioga
Medicina ayurvédica
Terapia holística
E comem grãos e terra
Mas o que é marcante
É o seu olhar
Que não tem vida
E parece mergulhar
Num abismo grande
Numa eterna depressão
Numa falta de alegria
Vivendo na ilusão
De que é elevado
E reza com as mãos
Numa pose de elevado
E dizendo "gratidão"
Namastê, namastê, namastê
Virando evangélica.
Toda pessoa que vira evangélica depois de ser muito louca, perde o brilho no olhar, a molecagem e a beleza interior. Ao invés de aprender a lidar com sua loucura e manter-se sensual e interessante, a pessoa resolve fazer uma lobotomia da alma e ficar com pose, olhar e comportamento de zumbi. Lamentável.
O idiota.
Assistindo a um seriado qualquer, vejo um dos personagens chamar o outro de idiota e, sei lá por que, resolvi refletir sobre "o idiota".
O idiota, antes de qualquer coisa, é um burro, um macaco, um símio, um humano de inteligência reduzida que geralmente tem testa pequena – há um ditado japonês que associa o tamanho da testa à inteligência...
Só que esse animal não se conforma com sua falta de inteligência e quer participar, quer "engrandecer", quer se engrandecer, quer falar, quer opinar – questões psicológicas, tais quais arrogância, insegurança, trauma de infância etc., bem como questões fisiológicas, como por exemplo muita energia instintiva, fazem com que queira conversar, opinar, participar, ler jornais e assistir telejornais e vídeos, a fim de ficar a par das coisas; contudo, e é aí que mora a caracterização maior desse bufão, o idiota tem presença! Geralmente é grande, tem algo na voz, uma presença, uma elegância, alguma coisa chamativa em sua personalidade; e esse é o problema: não passa sem chamar a atenção!
Mas isso não basta para a existência do idiota, não... É preciso outros idiotas para apoiar e aplaudir o debiloide! Sem plateia esse primata não é nada! E – ó, desgraça coletiva! –, como há muitos idiotas neste mundo, plateia é o que não lhes falta, vide o ex-presidente da república que, quanto mais merda falava, mais era aplaudido! Ele, o senhor Bolsonaro, é o típico exemplo de um idiota, mas ele nunca foi idiota! E é aí que morava o perigo! Bolsonaro tem testa grande, não é um símio, um jegue... ele se fazia de jegue para conseguir o apoio dos idiotas, mas, no fundo, sabia muito bem o que estava fazendo; estava manipulando e enganando. Não digo que fosse um Albert Einstein, longe disso, mas ele não era um idiota fisiologicamente falando e, justamente por isso, por se passar por idiota, ele foi perigosíssimo, pois suas intenções eram de destruição! Ele queria destruir o Brasil, acabar com as estruturas, com tudo o que conquistamos, para ser o Imperador e colocar suas ideias medievais em prática. Ainda bem que está inelegível e é bem provável que, algum dia, vá para a cadeia...
Por que o patriarcado deve morrer? – isso não significa que o matriarcado deva dirigir o planeta.
O patriarcado deve morrer porque sabemos quais são as respostas dos homens no poder para os problemas a serem enfrentados, e todas, ou quase todas, foram e são burras! Tudo o que os dominantes fizeram até hoje em termos de organização social e felicidade coletiva foi destruir. E destruição é o que se vê em todos os cantos. E, mesmo depois de toda evolução política, social, psicológica, histórica etc., ainda há mamutes nazistas ocupando os tronos dos países, seja uma República das Bananas ou a fundição metálica e bélica mais assassina de sempre – U.S.A.
E, certamente, se deixarmos o feminino, somente o feminino, governar o planeta cairemos no mesmo erro do masculino; se só esse instinto der as canetadas finais nos projetos, provavelmente veremos erros e absurdos da mesma forma que vimos e estamos vendo do masculino; quem deve governar são as mulheres e homens que tenham tanto o instinto feminino quanto o masculino em evidência; são pessoas mais completas, multidirecionadas, com a preponderância de vários instintos, não só do masculino e feminino; são os bissexuais, os poliamoristas, aqueles que gostam tanto de montanha quanto de caverna, aqueles que gostam de oceano e de lagoa, aqueles que se sentem bem tanto com homens quanto com mulheres.
O "pegador", o cara que transa com todas, assim como a feminista tresloucada ou qualquer outro estereótipo pífio estão com seus dias contados se quisermos salvar o planeta. O humano ideal é o bissexual, o xamã além do sexo, alguém que tenha em si não só o feminino e o masculino, mas o palhaço, o que dança, o que ama, o que transa implacavelmente como se fosse um deus do sexo, o que se preocupa com uma criança magoada, o que se revolta com a vagabundagem dos folgados e perversos os quais nunca quiseram melhorar a vida na Terra.
Inveja.
Inveja é quando você quer ser um tipo de pessoa, mas não é – e a outra pessoa é.
Aí você a inveja: tem raiva, quer atacá-la, sente-se humilhada, pequena, impotente.
A inveja é uma doença da cabeça; é uma doença intelectual, não é profunda, não é tão perturbadora assim.
É um processo um tanto superficial, ridículo até, infantil.
Para curar-se, o velho remédio:
Olhe para você e saiba o que e quem você pode ser;
Trabalhe para evoluir, melhorar, dê o seu melhor
E pare, definitivamente, de se espelhar na outra e
Concentre-se, centre-se em você.
Essa é a cura para esse mal besta, pobre e infantil.
Feiura.
Feiura
É amargura da alma,
É sensualidade forçada,
É carisma forçado,
Um peso,
Um carma difícil
De ser carregado.
A Feiura
Da pele
E dos cabelos
É um reflexo
De um desarranjo
De alma,
Música
E dança.
A Feiura
Não se relaciona
À Estética,
À pobreza
E à genética.
Feiura é
Desgostar-se,
Odiar-se,
Enraivecer-se,
Rejeitar-se.
A Feiura
Não dança,
Não canta
E não samba.
A Feiura
Não ama,
Não trepa
E não samba.
A Feiura
Não joga bola,
Não pinta
E nem borda.
A Feiura
Não é brasileira
Porque ela
Odeia a brincadeira
E o samba.
A Feiura
É irmã
Do rancor,
Do ranço,
Do suor fedido
E do amargor.
A Feiura
Não escolhe
Classe social,
Timbre vocal
Ou o dito normal.
Feiura
É escolha
Da Covardia,
Da Arrogância
E da Falta de Alegria.
Feiura
É amiga da Traição
E inimiga da Emoção.
Feiura
É a pele assustadora,
O fedor se espalhando
E o desespero aumentando.
A Feiura
Não se senta à
Mesa com os Deuses
E inveja as
Deusas guerreiras.
Sobre a cultura da Índia.
Com todo respeito a quem gosta dessa cultura, mas... Que raios de fascínio a Índia exerce na classe média brasileira? Por que a Índia como referência de cultura superior? O que tem lá? Machismo avassalador, altos índices de violência, algumas das cidades mais poluídas do mundo, analfabetismo e, o pior, uma religiosidade que afirma existir um potencial dentro de cada pessoa, uma essência divina que pode ser despertada e aumentada. E ela pode e deve ser despertada e aumentada, a fim de contribuirmos com luz e bondade no mundo, em outras palavras, o destino supremo dos praticantes da religião hinduísta é ser bom e "luminoso". O objetivo é a bondade e a luz, mas... E os sentimentos, as paixões, os instintos, a boa ganância, o desejo de conquistar, as dores devido ao fato de se trabalhar intensamente com o que se ama, os sacrifícios que se faz para terminar uma faculdade, um curso; a esperteza contra o inimigo, a sensação de justiça quando damos o troco em alguém que nos maltratou a vida inteira, a ligeireza contra a maldade passivo-agressiva de um patrão, um "amigo", um parente? Essa bondade iluminada não sufoca tudo isso? Essa bondade iluminada não diminui toda a extensão da alma humana, todos os seus apetites, e transforma as pessoas em bonequinhos de desenho animado para crianças de três anos que adoram galinhas pintadinhas, passarinhos cantantes e felizes e ursinhos meigos e fofos? Creio que a humanidade já se encontre suficientemente madura para perceber que tais conceitos – iluminação, bondade, passividade, amor ao inimigo etc. – são falsos e odiosos. É notório o número de crianças que se rebelam contra mães e pais que vestem a túnica imponente e autoritária disfarçada de bondade, elevação moral, luz e namastê; essas crianças não suportam a falta de ânimo, a falta de prazer, a falta de alegria, a falta de pegada instintiva, a música apática sem dança e sem alegria e percebem, porque são crianças, os seres mascarados e artificiais que lhes dão ordens. E... Ó! De repente a criança quer cantar, quer pular, pois cheia de energia está, quer dançar, fantasiar e criar, só que esses pais politicamente corretos, cristãos, hinduístas e budistas se assustam e a levam à psicóloga, que a diagnostica com TDAH! E dão remédios para a criança, e matam sua libido, e acabam com o seu prazer de viver... E não se sabe por qual motivo os jovens estão se suicidando de forma alarmante atualmente...
Sobre os animais de poder e o xamanismo.
Esta é para as xamãs, os xamãs da atualidade: é perigoso identificar-se somente com um único animal de poder, pois isso pode acarretar algum distúrbio psíquico. A consciência dos antigos xamãs não era tão evoluída quanto a nossa e justamente por isso eles se identificavam basicamente com um único animal. Dizer "um urso me protege" ou "sou abençoado pelo pato sagrado" e viver como se esse animal fosse seu guia e mentor de comportamento é perigosíssimo, uma vez que pode suprimir a pluralidade da alma, colocando a pessoa a um passo de alguma doença relevante.
Outra realidade psíquica muito comum observada nos xamãs atuais é a incorporação de animais e deuses em suas vidas cotidianas, em seus pensamentos, fantasias e atitudes diárias, e isso é, também, perigosíssimo, pois pode levá-los a fugir da realidade, afastando-os das obrigações mundanas e colocando-os num flerte sinistro com a psicose. O correto é se utilizar de animais e deuses durante o processo xamânico em si, durante o culto, a cura, a fim de que determinadas questões psíquicas sejam resolvidas; depois que essas questões forem resolvidas, a melhor coisa a fazer é deixar os animais e os deuses no inconsciente mesmo.
Cuidado com as identificações com esses símbolos – podem levar a doenças seríssimas.
Anima, animus e os relacionamentos hetero e homoafetivos.
A beleza da mulher atrai e intimida o homem;
A eloquência e a coragem do homem atraem e intimidam a mulher, por quê?
Porque, dentro de cada homem, existe um instinto feminino, belezas, delicadezas e elegâncias femininas e, dentro de cada mulher, existem coragens, forças e eloquências masculinas.
No inconsciente da mulher existe o arquétipo masculino – animus.
No do homem, o feminino – anima.
Isso se aprende com Jung.
É por isso que homens e mulheres, quando estão maduros e se amam, se completam – os relacionamentos heteroafetivos completam, tocam no profundo, no instinto, na alma, são transformadores, cheios de dor e amor; já os relacionamentos homoafetivos não completam, não são profundos e não mexem muito com a personalidade, pois não existe o componente instintivo oposto – anima ou animus.
Os relacionamentos homoafetivos são um tanto superficiais, não oferecem perigo e não atraem de mesma forma que os relacionamentos heteroafetivos – nem por isso deixam de ser verdadeiros e bonitos; só são mais superficiais, e por isso machucam menos.
Freud, Jung, Hillman. Psicanálise, Psicologia Analítica e Psicologia Arquetípica.
Para Freud, as psicoses eram difíceis de serem tratadas, uma vez que o discurso psicótico não permitia o fluir da livre associação de ideias, tornando assim muito difícil conhecer a raiz do trauma originador da doença – é por isso que Freud tratava basicamente das neuroses; ele podia entender o discurso e, com isso, chegar à raiz do problema. Evidentemente, o objetivo da Psicanálise era chegar, através da livre associação ou da interpretação dos sonhos, ao trauma originador da neurose. Os desejos, os impulsos, as tentações, as proibições, os nãos, as violências, por serem indesejáveis e insuportáveis, eram reprimidos e "jogados" no inconsciente, ou id, e viriam a se transformar em doenças psíquicas, dentre elas a neurose. A análise só funcionaria se esses conteúdos reprimidos fossem descobertos, rememorados, revividos...
Jung era médico psiquiatra (diferentemente de Freud, que era neurologista) e começou sua carreira num hospital sob a orientação de Bleuler – o médico que nomeou a esquizofrenia. E, pelo fato de ter começado tratando de psicóticos, especialmente de esquizofrênicos, Jung, por motivos óbvios, não podia dar atenção literal à fala deles e por isso começou a tentar entender o discurso esquizofrênico de forma simbólica e não literal – certamente ele não podia recorrer à livre associação de Freud.
Então, quando um paciente, que estava olhando para o sol e fazendo movimentos com a cabeça, disse-lhe estar vendo o "pênis do sol", Jung lembrou-se de ter lido algo semelhante na mitologia de algum povo; ou seja, algum povo, num determinado período e local deste planeta, desenvolveu um mito, uma fábula, um conto, uma narrativa sobre o pênis do sol.
Creio que isso deu um "clique" na cabeça do suíço, impelindo-o a adentrar num mundo simbólico, arcaico, mitológico e muito mais profundo do que o da comunidade científica e positivista do século XIX.
"Ora", concluiu Jung, "se um povo elaborou um mito que fala do 'pênis do sol' e meu paciente tem uma fantasia semelhante, logo deve haver algo em comum na mente humana que motive tanto aquele povo quanto meu paciente a criar e a desenvolver determinados mitos e fantasias". Tendo isso como ponto de partida, o jovem médico começou a pesquisar veementemente toda a mitologia existente – mergulhou fundo na mitologia, alquimia e religiões e descobriu existirem conteúdos semelhantes a todas elas, e esses conteúdos se encontram presentes na mente de todos os seres humanos. São os motores do comportamento, os propulsores da arte, mito, amor, guerra, beatitude etc. A isso ele deu o nome de arquétipos. São estruturas universais inatas e que direcionam aos mais variados tipos de comportamento. Para Jung, arquétipo é instinto. Se o instinto se manifesta no corpo, o arquétipo se manifesta na mente, para depois encontrar um destino na arte, religião, doutrinação, filosofia, música, sexualidade etc.
Apesar das diferenças de entendimento em relação à estrutura e o funcionamento da mente, bem como das teorias bastante distintas uma da outra, tanto a Psicanálise quanto a Psicologia Analítica afirmam que a cura das doenças se dá pela assimilação dos conteúdos inconscientes pela consciência, com o objetivo de aumentar o nível de consciência para fortalecer o ego.
A cura é o ego fortalecido, o ego forte. Frase de Freud: "A psicanálise é um instrumento que permite ao ego alcançar uma progressiva conquista do id". Se o ego estiver fraco, as chances de os conteúdos inconscientes invadirem e dominarem a consciência são grandes, disso resultando as neuroses e as psicoses. Tendo em vista isso, as imagens que aparecem nos sonhos servem unicamente para ajudar no fortalecimento do ego: os detalhes, as cores, as formas, as deformações, as bizarrices, os monstros, as deusas, as pessoas que fazem parte da vida do sonhador, os animais que se transformam em gente, um sorriso podre, uma boca cheia de dentes ausentes, o enredo onírico, as sombras, os sussurros, as transformações das imagens durante o sonho, as sensações que acompanham o sonhador assim que ele acorda, enfim, tudo tem um propósito, que é o fortalecimento do ego. Nem é preciso dizer que, no sonho, a única imagem que importa é a do ego onírico, o "eu" do sonhador, o ego do sonhador, e as outras imagens servem somente de suporte para que esse ego encontre o caminho para o seu fortalecimento, desenvolvimento ou individuação.
Hillman achava que isso tirava o poder, a importância do sonho, porque as outras imagens – as não egóicas – eram desconsideradas. Daí surge a concepção de uma psicologia policêntrica e não monocêntrica. As psicologias de Freud e Jung são monocêntricas, centradas num ego único e forte, oriundo de uma mentalidade judaico-cristã, de um único deus; ou de Hércules, da força hercúlea, conquistadora, greco-romana que conquista, subjuga e escraviza. O insight do norte-americano foi: e se o ego onírico se misturasse às outras imagens do sonho? E se tirássemos dele, do ego onírico, a importância dada por Freud, Jung e toda uma cultura machista, monoteísta e bélica? E se aquele "eu" do sonho, que vem carregado de sensações, desejos e imagens de uma cultura de poder, se misturasse às outras imagens oníricas? E se essas outras imagens começassem a ganhar peso, valor e importância e fizessem com que o ego onírico a elas se misturasse, com elas interagisse e com elas dialogasse? O que aconteceria? O ego perderia o poder, a importância; a mentalidade centrada no ego – egocêntrica (infantil, por que não?) – começaria a dar lugar a uma mentalidade, a um jeito de pensar, ser e viver que seria "centrado em todos", em "todas as partes do sonho", em "todos os detalhes do sonho", ou seja, uma nova mentalidade se desenvolveria, um novo jeito de ver o sonho, a mente e a vida nasceria e, com ele, toda a estrutura de uma cultura decadente, ameaçada, estaria.
Basicamente a diferença entre Hillman e Freud e Jung no entendimento dos sonhos é essa: Freud e Jung reduzem o sonho, procuram no sonho imagens que corroborem suas ideias e, ao procederem assim, ignoram as outras partes do sonho, as "imagens menores", as que não estão diretamente ligadas ao ego do sonhador. Hillman vai entender que todas as imagens do sonho, todos os detalhes, por mais insignificantes que sejam, são importantes, pois aumentam o valor do sonho e aumentam também as associações que se pode tirar para a vida do sonhador. Para Hillman, "arquetípico" é o valor que se pode extrair de uma imagem, daí o nome de sua psicologia. Se todas as imagens do sonho forem consideradas, esse sonho ganha em valor e esse valor é o que ele chamou de "arquetípico", daí o nome Psicologia Arquetípica.
Jung e Jesus Cristo – Jung e seu complexo de Jesus Cristo?
De acordo com a psicologia de Jung, a alma – psique – tem uma meta a ser atingida e essa meta é o Self ou o Si-mesmo. Cada ser humano tem um Centro dentro de si, um Self, e se ele estabelece um contato com esse Self, aí sim encontra a Realização. E, portanto, essa é a meta a ser atingida tanto na terapia como na vida.
Nós, humanos, estamos no planeta há mais de dois milhões de anos e nossa espécie há duzentos mil. Será que, em todo esse tempo, o Centro, o Self ou o Si-mesmo já não deveriam fazer parte de nossas vidas? Depois de todo esse tempo vivendo, guerreando, amando, traindo e vingando já não deveríamos ter encontrado o tal do Self? A tal da Realização? Claro que sim! Se a Realização, o Si-mesmo ou o Self fossem nosso destino supremo, certamente já o teríamos alcançado.
E sabem por qual motivo ainda não alcançamos e nunca alcançaremos a tal da Realização? Porque ela não existe. Não existe o Self, o Si-mesmo ou o Centro. Tudo isso estava presente na mente de Jung, da mesma forma que o Reino de Deus estava presente na mente de Jesus. Se Cristo doutrinou seus discípulos a atingirem o "Nirvana Cristão", o fundador da Psicologia Analítica doutrinou seus seguidores à Individuação, Totalidade, Self ou Si-mesmo.
Jung foi, da mesma forma que Jesus, abençoado, ou amaldiçoado, com um inconsciente poderosíssimo, que quase o levou à psicose – sabemos que ele conversava com seus arquétipos, da mesma forma que o Filho da Virgem conversava com o Pai e, por causa dessas "conversinhas", elaboraram objetivos, dogmas e crenças: Cristianismo e Psicologia Analítica; Reino dos Céus e Si-mesmo (Individuação, Centro, Self).
Ao viver o Si-mesmo, torna-se quem se é – completo, feliz, realizado, soberano. As semelhanças entre a psicologia do suíço e a doutrina de Cristo são impressionantes: se o cristão obedecer aos ensinamentos do Mestre, fizer o que lhe foi dito e percorrer o caminho da Salvação encontrará a paz eterna e se sentará ao lado do Pai após sua morte; se o paciente encarar seus complexos, conhecer sua sombra e seus arquétipos trilhará o caminho do Si-mesmo (Individuação, Centro, Totalidade).
Existe, no pensamento de Jung, em sua psicologia e doutrina, um quê de metafísico, de salvacionismo, de beatitude, de "cristianismo"; há uma inclinação ao instinto de rebanho, ao dogma, à Unicidade, ao Todo-poderoso (Centro, Self).
Essas palavras não são, de forma alguma, uma declaração de desprezo à Psicologia Analítica; ela não pode ser desprezada, uma vez que é a morada de descobertas importantíssimas, como a teoria dos arquétipos, a comprovação da existência do inconsciente coletivo, o conceito de "sombra", sem falar de outras descobertas maravilhosas, mas é preciso ir adiante; é preciso enterrar a Unicidade, o Objetivo, a Ideia de Caminho, de Salvação... Temos que matar os dogmas, aceitar a pluralidade da nossa alma e a multiplicidade dos nossos arquétipos para vivermos, mais ou menos, como os gregos de antigamente ou os renascentistas viviam: cultuando, vivendo, criando e recriando a Multiplicidade, e não O Caminho, um único caminho, dogmático e monocêntrico.